O VidaLida está participando do #Desafio12MesesLiterários, organizado pelos blogs Entre Chocolates e Músicas, da Ani, e o Books and Carpe Diem, da Karine Fernandes. A ideia é escolher um livro do tema estabelecido naquele mês e compartilhar suas impressões.
Para o mês de Janeiro, o desafio era ler um livro do seu gênero favorito, por isso, escolhi "O Caso do Hotel Bertram", um romance policial de Agatha Christie, para me acompanhar durante a primeira semana do ano.
Além de trazer meu gênero favorito, a obra tem como protagonista a minha "investigadora" preferida da autora, Miss Jane Marple que, utilizando sua experiência de vida e seu faro aguçado, ajuda a Scotland Yard em diversos casos.
Se diferenciando dos demais livros da autora, os primeiros capítulos não trazem o costumeiro assassinato e a apresentação dos possíveis suspeitos. Somos recebidos no Hotel Bertram, um típico hotel londrino que, mesmo em 1955, ainda possui a atmosfera dos anos 30, conhecido por seu delicioso chá. Miss Marple desfruta de sua estadia, até que Bess Sedgwick, figura polêmica, sempre presente na mídia, conhecida por estar sempre envolvida em escândalos, relacionamentos conturbados e por ter sido pilota de carros de corrida, passa a se hospedar no hotel. A chegada da celebridade instiga a curiosidade de nossa investigadora, já que o Bertram parecia um pouco pacato demais para Bess.
Além disso, temos duas tramas paralelas. A primeira traz Elvira, também hóspede do hotel, uma adolescente herdeira de uma grande fortuna, que foge da casa de seus tutores temendo que a matem por conta da herança. Na segunda, acompanhamos inspetores da Scotland Yard tentando solucionar diversos roubos de um grupo criminoso, que parecem se conectar pela constante presença de um carro de corrida durante as ocorrências.
Por trazer diversos pontos de vistas, e situações diferentes que se centralizam no hotel, a leitura não se torna cansativa, e aumenta nossa curiosidade para o desfecho da história. A solução do caso é, de fato, previsível, mas acredito que o principal objetivo da autora tenha sido trazer uma forte crítica social, em situações que continuam presentes no nosso cotidiano, mesmo cinquenta anos após sua publicação.
Para saber mais sobre o #Desafio12MesesLiterários, clique aqui!
Estávamos no ALI PUB, Barueri. Era uma apresentação do Grupo Choro Marginal.
Então o Hugo me disse que "aprendeu a ler". Quase um Engenheiro formado, imaginei que isso fazia muito tempo. Mas ele me disse que não...
31 ANOS SEM LER
"Passei 31 anos da minha vida sem ler. E agora, aos 33 anos de idade, descubro os prazeres e desprazeres da leitura.
Bom, acho que é melhor eu me apresentar! Meu nome é Hugo, tenho 33 anos de idade e sou uma “pessoa castanha”. Um jovem medíocre, que na escola apenas se destacou na arte de mentir e aprontar. Tive uma infância muito solitária, talvez isso tenha forjado meu jeito cada vez mais ermitão e antissocial. Também sou mestre em criar bloqueios. Quando acho uma tarefa difícil demais ou imprópria para as minhas habilidades intelectuais, empaco como mula prenha ao se deparar com rio profundo e de vultosa correnteza.
O meu maior bloqueio, depois do mais vexaminoso (que era fazer necessidades nas calças mesmo com uma idade em que crianças “normais” não mais o faziam), era escrever todos os dias no cabeçalho, que antecedia a tarefa do dia no caderno da escola, “brazil”. Nossa como isso deixava minha mãe irritada! Professora de línguas (Português/Inglês), lembro-me perfeitamente como dizia em tom alto, próprio dos professores quando enfrentam resistência aos seus ensinamentos:
“Hugo! “Brasil” é nome de país, se inicia com letra maiúscula e não tem nada de “z”, é com “s”.
Bom! Mas mesmo sem saber ler, escrever, calcular e nunca ter entrado em uma aula de física ou química, consegui aos solavancos, por inércia, concluir o ensino fundamental, o antigo colegial técnico profissionalizante. E ainda entrei na faculdade de engenharia civil, onde me encontro no último ano. Acho que para alguém que era covarde ao ponto de sujar as calças com medo de ir ao banheiro, tive muita coragem de enfrentar a vida escolar, profissionalizante e acadêmica sem saber ler e escrever.
A definição comum da palavra alfabetizado é: “o que ou aquele que aprendeu a ler e escrever”. Agora vamos pensar! Saber ler pode ser interpretar símbolos e assim decifrar um código ou mensagem representadas. Esta, na minha opinião, é a melhor das definições, porém intrinsecamente não é a definição comumente usada. Se saber ler é interpretar símbolos afim de decifrar uma mensagem e sabemos pronunciar a palavra “Esquálido”, mas não a interpretamos, podemos chegar à conclusão de que ler é mais do que o conhecimento da fonética. Contudo, a principal função de ler não é a fonética e sim a mensagem que pode ser decifrada sem o conhecimento da fonética. É possível uma criança surda sinalizada aprender a ler.
A pré-história é, por conjuntura dos historiadores da arte, dividida em duas épocas: a Paleolítica e Neolítica (Pedra Velha / Pedra Nova). Cada uma com suas particularidades, e a principal característica que nos distancia do homem pré histórico é a descoberta da escrita. Este foi o advento que tirou a humanidade da época da pedra. Logo podemos classificar alguém que está na modernidade, mas não sabe ler, como “Homem Anacrônico”.
Como mestre em criar bloqueios, durante uma boa parte da minha vida, achava, e confesso que ainda não tenho a plena certeza de ser o contrário, que o hábito de ler não seria de todo benigno, pois conduz a criatividade e canaliza o livre pensamento. Pouco antes de completar trinta e um anos de idade resolvi começar um experimento com a leitura. Consultei o Google, pesquisei “livro mais foda do mundo”. Achei uma lista tipo “top 10” e o número um do ranking era “Guerra e Paz” de Tolstói. Resolvi começar por ele, numa versão completa com 1500 páginas divididas em dois volumes. Insisti bem nessa ideia. Fui até quase o final do primeiro volume, mesmo sem entender quase nada, devido a grande quantidade de personagens e ao autor hora referir se aos personagens pelo nome, outra pelo sobrenome, titulo ou grau de parentesco com outro personagem. Até que, no final do primeiro volume, desisti da ler, pois já fazia pouquíssimo sentido.
Apesar de ter desistido de Leon Tolstói, ainda não tinha desistido da meta de ler. Parti em nova empreitada então. Comprei quase a coleção completa, da versão “pocket”, de “Nietzsche”. Li, não lembro a ordem, mas li “O Nascimento da Tragédia”, “A Gaia Ciência”, “O Caso Wagner” e “David Strauss, Sectário e Escritor”.
Com a leitura dos livros de “Nietzsche”, depois de viciar na aventura que era ler em um português rebuscado e cheio de descobertas dentro da minha própria língua, percebi que o desafio de ler vai além de entender a “mensagem global”. Agora também havia o desafio de entender as novas palavras que eu não tinha o conhecimento do seu significado.
Depois das minhas aventuras com os volumes do alemão, decidi voltar ao Tolstói. Foi quando achei um volume em inglês e de aspecto físico muito bonito, de “Anna Karenina”(Ed. CRW Publishing). O desafio foi maior ainda com “Anna Karenina”. Por exemplo, nas primeiras páginas encontrei o adjetivo “lenient”, que para mim era desconhecido. Achei a seguinte tradução: “lenient = Indulgente”. Fiquei na mesma! Então tive que, além de operar um dicionário de versão em outra língua, operar um de significação.
Após “Anna Karenina” me senti totalmente preparado a voltar para “Guerra e Paz”. Hoje (30/12/2016) já li 80% da obra completa. Vejo sentido em cada frase e entendo a obra como um todo e, graças ao autor, consegui associar conceitos de cálculo infinitesimal com causa e efeito, relevantes ao comportamento do homem em sociedade; conhecer o “iluminismo” e ler “O que é o iluminismo?” (8 páginas) de Immanuel Kant; e ainda tantas outras experiências.
Ler não é conhecer o alfabeto. Mas sim exercício de constante pesquisa. Se um indivíduo conhece o Alfabeto Cirílico não quer dizer que ele entenda Russo. Ou seja, há uma enorme diferença entre ler e “ler”. "