(Este texto é dedicado de forma tardia e carinhosa à Jornalista e Amiga LUCIANA DIAS, pessoa sincera, solidária, admirável... profissional tão ética que soube não se fazer notícia. A última música deste texto começou a tocar no rádio quando decidi fazer esta homenagem, então eu a coloquei também para Luciana. Espero que ela goste).
No início dos anos 80 Marcelo Rubens Paiva lança, pela
histórica Editora Brasiliense, seu primeiro livro.
FELIZ ANO VELHO! Não é apenas um livro que fala de luta e
superação. Misturando os tempos, ele relata o seu descobrir o mundo e aprender
que nele há muitos mistérios. Algumas questões, alguns medos, algumas
incompreensões que eu debatia e trazia
apareceram ali. Eu me traduzia nas palavras de Paiva. Éramos de classes sociais
diferentes e isso nos distanciava. Contudo éramos jovens e tínhamos sonhos
demais (quem sonhou só vale se já sonhou demais – Beto Guedes).
“...
Conquistamos
todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
...”
Algumas vezes só nos levantamos da cama dos sonhos ao perdermos o chão.
Infelizmente um mergulho maldito e maldado tornou o Marcelo
um tetraplégico...
Nessa mesma época, João Carlos Pecci lança pela, Summus
Editoral, MINHA PROFISSÃO É ANDAR. Livro com situação semelhante e também motivador e de enorme sucesso, apesar
de não me trazer as inquietudes da transposição adolescente/adulto, também é motivador e inspirador.
Não sou de superestimar nem subestimar o poder dos livros,
mas, além de mostrar a possibilidade de superar ou suportar obstáculos “intransponíveis”,
esses livros trouxeram o debate sobre acessibilidade e direitos aos que têm necessidades especiais. Ou pode
ser que já era o tempo desses debates.
A história do Dôdi é emocionante. Ele, um dia...
Melhor ele mesmo contar. Veja o vídeo
Domingo, dia 18, assisti à peça “OS INTOCÁVEIS”, com Marcello Airoldi, Val Perré, Eliana
Guttman, Bruna Miglioranza, Carolina Parra, Ricardo Ripa e Fernando Oliveira.
Todo elenco vai muito bem. Val Perré faz você rir do início
ao fim da peça, sensacional.
Podendo mover apenas a cabeça e tendo como recursos teatrais
apenas as expressões faciais e a voz, Marcello Airoldi dá uma aula de
intepretação. O corpo dele se torna no palco um boneco de pano.
Deixa que lhe carreguem, que lhe movam sem oferecer resistência, sem ajeitar um dedo sequer (sim, eu fiquei observando se ele arrumaria os dedos da mãos quando o colocavam na cadeira e eles ficavam um pouco tortos e desesticados).
Deixa que lhe carreguem, que lhe movam sem oferecer resistência, sem ajeitar um dedo sequer (sim, eu fiquei observando se ele arrumaria os dedos da mãos quando o colocavam na cadeira e eles ficavam um pouco tortos e desesticados).
A história é comovente. Procurando alguém que lhe sirva como
braços e pernas, o tetraplégico escolhe aquele que lhe trata sem piedade, sem
superioridade, como um igual. Os dois se ajudam e evoluem.
O meu amigo Dôdi também tem seu Val Perré (mais bonita), é
sua companheira Milena Possidonio.
Nossos limites e nossas limitações existem. Não podemos
tudo. Não podemos sempre. Estamos presos “nesta cela de ossos, carne e sangue,
dando ordens a quem não sabe, obedecendo a quem tem” (Zé Rodrix). Mas isso não
é o fim.
Conquistar, evoluir, alcançar, vitoriar... não são certezas.
São possibilidades!
Tudo depende se você vai ou não dar uma chance para a sua
evolução.
Superemo-nos!
Luciana, esteja em paz!