“Tenho consciência de ser
autêntica e procuro superar todos os dias minha própria personalidade,
despedaçando dentro de mim tudo que é velho e morto, pois lutar é a palavra
vibrante que levanta os fracos e determina os fortes.
O importante é semear, produzir milhões de sorrisos de solidariedade e amizade.
Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça.
Digo o que penso, com esperança.
Penso no que faço, com fé.
Faço o que devo fazer, com amor.
Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende!” Cora Coralina
O importante é semear, produzir milhões de sorrisos de solidariedade e amizade.
Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça.
Digo o que penso, com esperança.
Penso no que faço, com fé.
Faço o que devo fazer, com amor.
Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende!” Cora Coralina
Diz
a regra que pela desnecessidade os monossílabos tônicos e as oxítonas
terminadas em “U” não recebem o acento grave (exceção quando o “u” é a segunda
vogal tônica de um hiato, por exemplo: Guaraú).
Regras...
A
força dessas palavras terminadas com “U” tônico faz com que muitos, sem saber
que erram, acentuem palavras como NÚ, URUBÚ, CAJÚ... e mais alguma que você
lembrar. Visualmente as palavras ficam
mais imponentes. O acento lhes cai bem, parece até uma medalha de “honra à
força e à atitude”.
Talvez
seja por isso que a menina Mayra Corrêa decidiu adotar como seu sobrenome
artístico uma palavra de duas sílabas, oxítona, terminada em “U” e acentuada.
Além é claro de, nas suas palavras, fazer uma homenagem a alguém que ela
considera como pai.
A
simplicidade mariana e a força gadúense dessa cantora pode ser percebida na
escolha de seu repertório e na sua interpretação única, mas é quando está no palco que se percebe
toda a sua energia, sua determinação , sua luz e sua coragem.
Apesar
de toda modernidade visual, eu mais ouço do que vejo música e adorava quando sua voz aparecia para meus
ouvidos.
Ela
realizou um show em Brasília que foi transmitido ao vivo, foi a primeira vez
que a vi.
Pode
ser que eu seja mesmo muito desligado; ou a transmissão não lhe fez justiça. No
meu imaginário, Maria Gadú era uma pessoa com a altura parecida com a da Elis
Regina. Por uma questão de justiça não faço comparações entre talentos de
tempos e recursos distintos. Acontece que fazia já duas semanas que eu ouvia
repetidamente um cd da Pimentinha: Transversal do Tempo. Que força!
Que
atitude! Que mulher! Uma das minhas frustrações é nunca ter visto, ao vivo,
Elis. Logo iriam liberar a venda de ingressos para o show da Maria Gadú e aquela
convivência com Elis reforçava mais ainda a imagem que eu criara.
Já
sabia que conseguir os ingressos seria uma batalha. E foi. A vitória não era
uma certeza, a determinação sim.
Dias
antes da venda dos tais ingressos, o programa da Tv Cultura ENSAIO, recebeu
Maria Gadú.
Foi
a primeira entrevista que eu vi da cantora. A primeira coisa que me chamou a
atenção foi a sua altura. O imaginário que eu criara sobre ela se despedaçou.
Decidi, então, me despir de qualquer ideia ou opinião sobre a artista e passei
a contemplá-la como se folheasse as primeiras páginas de algum livro famoso,
mas que eu ainda não tivesse lido. É assim que se entende e se aprende qualquer
coisa, nu de pré-concepções (dane-se a nova ortografia ou qualquer corretor de
texto, escrevi pré-concepções com hífen e é assim que vai ficar).
Dona
de uma timidez não impeditiva, aquela mulher cantou a sua história e contou a
sua arte. Em mim, sua imagem se
fortalecia e ela se tornava cada vez maior. Uma salada agridoce. Em suas
palavras e conceitos uma mistura de gente de casa com gente do mundo, gente
deste tempo com gente eterna. É como se fosse uma prima de segundo grau que a
gente admira, que é parente e não é ao mesmo tempo.
Tempo,
tempo, tempo, tempo...
Final
do mês passado fui até Goiás Velho...(Calma, não estou mudando de assunto!)
“Nada do que eu fui me veste agora
Sou toda gota, que escorre livre pelo rosto”
Sou toda gota, que escorre livre pelo rosto”
“o tão famoso e
inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo... “
te deixará pasmo, surpreso, perplexo... “
Foi
lá a última residência de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas. Não conhece? E se eu te disser que esse
era o nome de outra grande artista... Cora Coralina.
Cora
significa Coração; Coralina vem da cor vermelha. Emoção e força traduzem essa
poetisa.
Saiu
de casa para viver uma história. Em São Paulo sobreviveu e ajudou na revolução
de 32. Apesar de já despontar em alguns artigos de jornais, o marido, juiz, não
lhe permitiu a literatura. Sobreviveu ao marido. Com doces e poesias fez seu
destino. Um dia alguma de sua poesia recebeu a visita dos olhos de Drummond,
que a refletiram para o resto do mundo.
Claro
que eu já havia lido algo de Cora Coralina, mas poesias soltas, desconhecia sua
história. Conversando com uma senhora que possui uma loja de artesanato em
frente à casa de Cora (hoje é um museu) descobri que ela gostava de conversar
com estudantes e com quem quisesse ouvi-la, mas não suportava perguntas
triviais ou idiotas.
Foi
a primeira mulher a receber o prêmio Juca Pato. Seus livros são da simpática
Global Editora, que fica na casa em que viveu o arquiteto Ramos de Azevedo (ao
lado do Metrô São Joaquim, vale a pena visitar, mas não sei se é possível, o
restaurado e conservado casarão). Também aparecem no catálogo da Global Editora
os livros do inspirador Aníbal Machado, melhor contista brasileiro; do João
Carlos Marinho, autor do primeiro livro que li: O Gênio do Crime; além de
outros com Darci Ribeiro, Marcos Rey, Ana Maria Machado, Mário Quintana... e
por ai vai.
Com
Cora Coralina também fui surpreendido pelo meu desconhecimento de sua história,
de sua luz e de sua força. Para mim, inculto sobre sua biografia, ela era
apenas uma senhora que começou a fazer poesia após os 70 anos. Fruto de
inspiração? Claro, poderia ser, mas nenhuma literatura é apenas fruto de
inspiração. Sempre há o suor.
“Aceitei contradições
“Aceitei contradições
lutas e
pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.”
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.”
“Quando já não tinha espaço pequena fui
Onde a vida me cabia apertada
Em um canto qualquer acomodei
Minha dança os meus traços de chuva”
Onde a vida me cabia apertada
Em um canto qualquer acomodei
Minha dança os meus traços de chuva”
Se
eu já estava impressionado com o que vi dias antes na tv...
“Salvando minha alma da vida
Sorrindo e fazendo o meu eu”
Sorrindo e fazendo o meu eu”
“Não te procurei, não me procurastes –
íamos sozinhos por estradas diferentes.”
íamos sozinhos por estradas diferentes.”
Algumas vezes a gente só descobre dos perigos que nos
rondavam quando somos salvos.
A mesma timidez não impeditiva, um jeito de nos fazer “sentir
em casa”, um imã que atrai toda a sua atenção. As letras de Maria Gadú perdem,
ao vivo, qualquer verniz radiofônico e
se expandem em você como aquele eco que fazem as pedras quando são atiradas na
água. Impressionante! Impressionado! Imprescindível!
Maria Gadú e Cora Coralina não são pedregulhos atirados no
lago, são como montanhas atiradas ao mar;
e seus ecos em nós não são passageiros como tudo que se expande na água, são impressionantes... são marcantes... são
eternos!
“O fardo pesado que levas
Desagua na força que tens”
Desagua na força que tens”
“Renovadora e
reveladora do mundo
A humanidade se renova no teu ventre.”
A humanidade se renova no teu ventre.”
As citações que aparecem entre aspas ou são de Maria Gadú ou de Cora Coralina.
Ótimo texto! Seria bom que a cantora tomasse conhecimento dele!
ResponderExcluirEnviei para ela... Vamos ver se será lido!
ResponderExcluirQue feliz escolha do tema da postagem... Showwww adoro Maria Gadú
ResponderExcluirObrigado! Não se esqueça de compartilhar no face para concorrer.
ExcluirNão conheço muito de Cora Coralona... Mas seu nome é muito difícil nunca ter escutado.
ResponderExcluirQuanto a Maria Gadú gosto muito de suas músicas suas letras sejam as canções mais calmas ou as mais rápidas, as românticas enfim....
Elis do que conheço que ela interpretou amei. E também queria muito tê-lá conhecido assim como tantos outros que se foram. Os artistas e escritores que gosto e que ainda vivem um dia quem sabe conhecerei.
Parabéns pelo texto e pela super hiper oportunidades de ter ido ver Gadú e por ter acesso a história de Cora.
Obrigado. Não se esqueça de compartilhar no face para poder concorrer
ExcluirExcelente texto. Gosto muito da Cora Coralina. Uma mulher corajosa, que viveu a frente do seu tempo.
ResponderExcluirAmei o texto, Dorival
ResponderExcluirParabéns :)
Incrível!
ResponderExcluirBoas novas! Consegui com a Global Editora alguns livros da Cora Coralina para distribuir entre os que lerem, comentarem no blog e compartilharem no face este texto. Ainda não sei quantos mas é plural. Participe!
ResponderExcluirTudo tão doce ... O texto, Cora Coralina e as músicas de Maria Gadú! Soraya Andrijic
ResponderExcluir"Sobreviveu ao marido", gostei, quantas sucumbiram ao tempo.Usar arte, brincar com as palavras, excelente forma de descreve estas duas artista tão amadas pelo público.
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