Muitas vezes penso que sou mais forte em minhas decisões do
que realmente sou. Alguns dias eu saio de casa sem um livro nas mãos e acho que
vou ficar bem sem nenhuma literatura para desfrutar. Mas não é isso que
acontece... Se há ainda alguma sobra de salário ou saldo no cartão de crédito,
vou até algum ponto de venda de literatura e compro um livro. Foi assim que
peguei numa prateleira giratória um livro de bolso que pensei ser da LPM, mas
que é da Companhia das Letras (percebi quando me informaram o preço). A LENTIDÃO, de Milan Kundera.
Não é fácil encontra esse escritor Tcheco nas livrarias. O
primeiro livro dele que li foi “A Insustentável Leveza do Ser”, na década de
80. Fiquei fascinado com o estilo. A narrativa não retilínea, os múltiplos pontos
de observação, a liberdade de opinião e de pensamento das personagens... É um
mestre! Ainda li “Risíveis Amores” e “A Brincadeira”. Lembro de ter nas mãos “O
Livro do Riso e do Esquecimento” mas, creio, não cheguei a ler (o motivo não me
lembro e isso não é uma brincadeira com o título do livro).
A Lentidão fala do tempo e de suas impossibilidades,
perspectivas ou lembranças que são trituradas e misturadas pelo agora. Quando
algo nos acontece de forma muito rápida, não há muito o que se analisar ou
lembrar. As situações que passamos de forma mais lenta serão as mais marcantes.
“Quando as coisas acontecem rápido demais, ninguém pode ter
certeza de nada, de coisa nenhuma, nem de si mesmo. “
“ Meu senhor, não podemos escolher a época em que nascemos.
E todos vivemos sob o olhar das câmeras. Daqui em diante, isso vai ser parte da
condição humana. Mesmo quando fazemos uma guerra, nós a fazemos diante das
câmeras. E quando queremos protestar contra o que quer que seja, não
conseguimos nos fazer ouvir sem as câmeras. “
O livro é uma edição de bolso e de bolso se tornou. Por
isso, na foto, a capa aparece um pouco
amassada ou, como prefiro dizer, vivida. Foi e é meu companheiro por estes
dias.
Por falar em “estes dias” estamos na época da Bienal de São
Paulo. Um evento mais voltado ao livro e não necessariamente à Literatura. Sim,
há diferenças!
O Livro é um objeto. E como objeto há várias formas, modelos
e utilidades. Alguns se tornam seus companheiros do cotidiano ( como “A
Lentidão” se tornou para mim). Outros merecem ritual e lugar de destaque na
estante. Há também os que merecem vida independente e viajante, que são os tais
que emprestamos e são reemprestados e vagam sem que saibamos para onde foram.
Uns tantos merecem o lixo. Uns quantos merecem a utopia de que um dia
conquistaremos o seu entendimento. Outros tornam-se sonhos que nunca
realizaremos.
Falei de livros ou falei de empregos?
Falei de livros ou falei de amigos?
Falei de livros ou falei de conquistas?
Falei de livros ou falei de sexo?
Falei de livros ou falei de amores?
Falei do que você entender que falei!
Boas Leituras!