quarta-feira, 31 de agosto de 2016

A LENTIDÃO, Milan Kundera - por Dourovale



“Ao contrário do motociclista, quem corre a pé está sempre presente em seu corpo, forçado a pensar sempre em suas bolhas, em seu fôlego; quando corre, sente seu peso, sua idade. Consciente mais do que nunca de si mesmo e do tempo de sua vida. ”
Muitas vezes penso que sou mais forte em minhas decisões do que realmente sou. Alguns dias eu saio de casa sem um livro nas mãos e acho que vou ficar bem sem nenhuma literatura para desfrutar. Mas não é isso que acontece... Se há ainda alguma sobra de salário ou saldo no cartão de crédito, vou até algum ponto de venda de literatura e compro um livro. Foi assim que peguei numa prateleira giratória um livro de bolso que pensei ser da LPM, mas que é da Companhia das Letras (percebi quando me informaram o preço).  A LENTIDÃO, de Milan Kundera.
Não é fácil encontra esse escritor Tcheco nas livrarias. O primeiro livro dele que li foi “A Insustentável Leveza do Ser”, na década de 80. Fiquei fascinado com o estilo. A narrativa não retilínea, os múltiplos pontos de observação, a liberdade de opinião e de pensamento das personagens... É um mestre! Ainda li “Risíveis Amores” e “A Brincadeira”. Lembro de ter nas mãos “O Livro do Riso e do Esquecimento” mas, creio, não cheguei a ler (o motivo não me lembro e isso não é uma brincadeira com o título do livro).
A Lentidão fala do tempo e de suas impossibilidades, perspectivas ou lembranças que são trituradas e misturadas pelo agora. Quando algo nos acontece de forma muito rápida, não há muito o que se analisar ou lembrar. As situações que passamos de forma mais lenta serão as mais marcantes.
“Quando as coisas acontecem rápido demais, ninguém pode ter certeza de nada, de coisa nenhuma, nem de si mesmo. “
“ Meu senhor, não podemos escolher a época em que nascemos. E todos vivemos sob o olhar das câmeras. Daqui em diante, isso vai ser parte da condição humana. Mesmo quando fazemos uma guerra, nós a fazemos diante das câmeras. E quando queremos protestar contra o que quer que seja, não conseguimos nos fazer ouvir sem as câmeras. “
O livro é uma edição de bolso e de bolso se tornou. Por isso, na foto,  a capa aparece um pouco amassada ou, como prefiro dizer, vivida. Foi e é meu companheiro por estes dias.
Por falar em “estes dias” estamos na época da Bienal de São Paulo. Um evento mais voltado ao livro e não necessariamente à Literatura. Sim, há diferenças!
O Livro é um objeto. E como objeto há várias formas, modelos e utilidades. Alguns se tornam seus companheiros do cotidiano ( como “A Lentidão” se tornou para mim). Outros merecem ritual e lugar de destaque na estante. Há também os que merecem vida independente e viajante, que são os tais que emprestamos e são reemprestados e vagam sem que saibamos para onde foram. Uns tantos merecem o lixo. Uns quantos merecem a utopia de que um dia conquistaremos o seu entendimento. Outros tornam-se sonhos que nunca realizaremos.
Falei de livros ou falei de empregos?
Falei de livros ou falei de amigos?
Falei de livros ou falei de conquistas?
Falei de livros ou falei de sexo?
Falei de livros ou falei de amores?
Falei do que você entender que falei!
Boas Leituras!

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