quarta-feira, 27 de setembro de 2017

ZEIDE, de Caco Ciocler - por Dourovale


Aqui ou estamos de passagem, ou de paisagem. Como prefiro ser o fotógrafo a ser o fotografado, minha opção sempre foi estar de passagem. Nos meus tempos de Office-boy, todas as vezes que saia para fazer algum serviço mais longe eu preferia ônibus ao metrô. Gostava de olhar a rua, as pessoas, as casas, os acertos, os erros, as belezas e as feiuras do caminho. Naquele época eu produzia uma tv imaginária, TV DCV. Só eu sabia dela (pelo menos até agora). Havia vários programas, um para cada momento do dia.


Para as minhas andadas de ônibus eu apresentava O PEREGRINO. Programa moderno para aqueles anos 80. Visitava os lugares com minhas câmeras/olhos e comentava para meu fiel público (eu mesmo) o que via. Viajar sempre me fez bem. Mesmo antes da TV DCV, quando algumas vezes entediado, ia para o quintal, sentava no balanço que ficava em um galho de uma das goiabeiras e ficava admirando as nuvens. Vendo-as passar. Então eu me imaginava na janela de um avião, ou barco, ou trem.


Meu veículo, nem sei se eu já sabia disso, era o próprio planeta Terra. E se a gente pensar assim podemos entender que mesmo os que estão de paisagem, na verdade, estão, eles também, de passagem.
Não só, mas também por isso, a minha música preferida do Caetano Veloso é aquela em que ele descreve a visão de um passageiro de trem
As casas tão verde-rosa
Que vão passando
Ao nos ver passar
Os dois lados da janela
Há várias formas, opções, sugestões para nossa jornada. Aliás, a jornada não é única. Há várias viagens que realizamos durante esta nossa passagem.
Há, inclusive, uma viagem que se iniciou antes mesmo de nascermos e que continuará depois que estivermos em outra dimensão. Independente de termos ou não consciência ou informações sobre ela. Falo da nossa ascendência e nossa descendência. Falo da história que corre em nossas veias. Falo da história que temos e deixamos como herança. Família! Falo sobre o livro ZEIDE - A travessia de um judeu entre nações e gerações.
O lançamento foi em 25 de setembro de 2017.
É com esse livro que Caco Ciocler se lança nas aventuras da escrita.
Realidade e ficção se misturam num rocambole de histórias onde você não precisa tentar adivinhar o que é bolo ou o que é recheio. Apenas aceite a viagem. Viaje!
Não digo que há inspiração, mas também não digo que não, falo que ao ler o livro fui remetido a outra viagem literária. Não comparo estilos ou histórias, apenas fui transportado às lembranças da
leitura do MEU PÉ DE LARANJA LIMA, de José Mauro de Vasconcelos. Sucha me trouxe a imagem do Portuga. E o Boris ou o próprio Caco me resgataram algumas vezes Zezé, em outras o Luís. As mães dos dois livros poderiam ser amigas, ou confidentes.

E essa viagem familiar também está em ÉRAMOS SEIS, de Maria José Dupré. Um dos livros da minha infância. Está no sensacional CEM ANOS DE SOLIDÃO, do Gabriel Garcia Marques. Ou no A CASA DOS ESPÍRITOS, da Isabel Allende. Está em...
Há tantos livros bons que falam dessa viagem! E o fato de a leitura de ZEIDE me transportar para todas essas outras histórias só pode indicar que é uma obra de muita qualidade. É claro que um autor não se forma em um livro. Nem em 10, nem em 100, nem em todos os livros. Um autor se forma no momento da viagem literária. Seja o momento da escrita. Seja o momento da leitura.

Podemos falar de autores, das suas vidas. Essa é uma forma de viajar na literatura.
Podemos falar dos livros como consequência da experiência de vida de seu autor. Essa é outra forma de viajar na literatura.
Podemos falar apenas do livro em si, independente do autor. Mais uma maneira de viajar na literatura.
Podemos parar de falar e ler a obra de estreia, como autor, de Caco Ciocler.
Caco, feliz aniversário! E que suas novas opções de viajar nos façam criar novas viagens!


                   Obrigado!

sábado, 16 de setembro de 2017

O JARDIM DOS SONHADORES de Luccas Papp - por Dourovale



- Olá, John! Meu nome é Dorival.
Puxa, não sei como o Luccas vai entender isto. Será que vai pensar que é plágio? Melhor começar o texto de outra maneira...
Mas isto não é plágio. É intertextualidade! Eu posso escrever como se eu estivesse conversando com a personagem da história e comentar as minhas impressões sobre a estreia de “O JARDIM DOS SONHADORES” (com Lucas Papp e Joana Rodrigues. Temporada: 16/09 a 08/10 Sábados e domingos às 16h00 Ingressos: R$ 50,00 (inteira) DURAÇÃO: 70 minutos Classificação indicativa: Livre. VIGA ESPAÇO CÊNICO - Rua Capote Valente, nº 1323 – Pinheiros/SP Próximo ao metrô Sumaré).
Um grande amigo, chamado Omar Neder, diz que, diferente de muitos, eu vou além do portão. Sonho demais. Talvez seja por eu ser de câncer, como Raul Seixas. Ou pode ser por qualquer outro motivo.

A sua história, John, fala dos sonhos de um casal acasional (reunidos pelo acaso). E tem todos os ingredientes necessários para uma história de amor. Eu não vou entrar em detalhes para não estragar a emoção dos outros sonhadores que também irão assistir à peça.
Apesar de ser sonhador, John, eu não sou muito de fazer projeções, não tento adivinhar o futuro. Mas esse moço que te criou, o tal do Luccas Papp, se continuar desse jeito, nesse ritmo, nessa qualidade e com todos esses sonhos será, creio, uma das principais pessoas envolvidas com Teatro no Brasil.
Escritor, produtor, ator, professor... e outras infinitivas palavras terminadas em R, que me fogem agora dos dedos, mas que também significam ação e criação, podem ser adjetivadas ao garoto de apenas 24 anos. Foi a terceira peça dele e com ele que assisti. Só tenho elogios e admiração.
Foto Alan Moraes
John, meu universo é bem menor do que eu gostaria. Talvez minha alma seja mesmo mais tupiniquim do que apache. Enquanto via e ouvia sua história pensei que no lugar do Central Park a história poderia se passar no Ibirapuera; que ao invés de John, você poderia se chamar Raul (Luar ao contrário, olha que poético e sonhador!);  que a Olívia poderia se chamar Ellis, ou Nara, ou Zizi;  e que no lugar dos The Beatles e dos Rolling Stones poderiam ser Os Paralamas e A Legião.
Pode ser que os nomes sejam como são para dar à peça uma abrangência mais global (esse menino vai longe). Mas, meu amigo John, se a peça for encenada em Lisboa, por exemplo, pode se passar no Jardim da Praça do Imperador e com os nomes dos cantores lusos. Se for em Madrid, no Jardim De La Rosaleda. (pesquisei esses nomes no Tripadvisor, ainda não os conheço). Isso é só um pensamento que sempre tenho, não é crítica, talvez sugestão.
Foto Rosana Xavier
“O Jardim dos Sonhadores” é um texto que traduz a linguagem atual. O tema está conectado e ajustado a sua contemporaneidade.  Os atores muito bem dirigidos por Alan Moraes. Joana Rodrigues é (que a Rosana não me ouça) apaixonante. A banda (desculpe por ficar devendo seus nomes) não está de uma maneira alheia (ou à parte), está muito bem integrada à história e às cenas.
O Viga Espaço Cênico traz essa boa nova tendência de plateias pequenas e próximas aos atores. Artistas artes artevisionários (aqueles que assistem à arte) juntos e motivados.
John, meu nome é Dorival! Fui assistir a sua peça. Voltei para casa correndo. Precisava escrever este texto agora para não perder a boa emoção que a encenação, sua e de sua trupe, me causou.

Agora preciso ir trabalhar...
Obrigado!