Em seu segundo romance, Celeste Ng traz ao leitor um drama familiar que representa e critica o conservadorismo de uma pequena cidade planejada, tornando-se uma das melhores leituras desse ano.
Em Shaker Heights tudo é planejado: da localização das escolas à cor usada na pintura das casas. E ninguém se identifica mais com esse espírito organizado do que Elena Richardson.
Mia Warren, uma artista solteira e enigmática, chega nessa bolha idílica com a filha adolescente e aluga uma casa que pertence aos Richardson. Em pouco tempo, as duas se tornam mais do que meras inquilinas: todos os quatro filhos da família Richardson se encantam com as novas moradoras de Shaker. Porém, Mia carrega um passado misterioso e um desprezo pelo status quo que ameaça desestruturar uma comunidade tão cuidadosamente ordenada. (sinopse disponível no site da Editora Intrínseca)
A forma como a narrativa me prendeu desde as primeiras fases foi impressionante. A estética da escrita se assemelha à utilizada por Clarice Lispector e Virgínia Woolf, um fluxo de pensamento que une de forma fluida e contínua o ponto de vista de cada um dos personagens.
Mia Warren tem, como função principal, derreter a solidez que permeia Shaker Heights, questionando os valores e costumes tão intrínsecos àquele grupo social. Sua filha, Pearl, logo se apaixona pela vida repleta de luxo e mordomias na qual os filhos da proprietária da casa vivem. Os laços entre eles se estreitam cada vez mais, deixando as diferenças entre as realidades sociais ainda mais evidentes.
Celeste Ng utiliza essa variedade de pontos de perspectiva narrativa para trazer ao leitor uma forte e necessária crítica a diversos tipos de preconceitos, como a xenofobia, o racismo e o machismo, focalizando em uma pequena cidade, aparentemente perfeita, e sendo capaz de espelhar a realidade atual de inúmeros países. É necessária uma leitura atenta para conseguir acompanhar o ritmo da escrita, sem deixar de perceber as minúcias que permeiam as mais simples situações retratadas e aproveitar muito cada página dessa obra tão singular.
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