Na madrugada de ontem
(11 de agosto), na Avenida Liberdade, próximo à Estação São Joaquim, aconteceu
um aborto espontâneo. O feto, de 4 meses, ficou jazendo no asfalto, esperando a
perícia e protegido por dois policiais até umas 10 horas. Somente depois das 7
é que aquele ser humano em formação foi coberto por uma caixinha de papelão.
Ficou muito tempo exposto aos olhos de quem ia trabalhar.
Eu não fui ver. Se
apenas a ideia do fato já me tirou as energias e deixou o dia mais difícil...
Não foi uma notícia
destaque de nenhuma forma de jornal porque foi uma ação natural. Apenas os
crimes instigam nossas mentes e dão audiência.
Na noite de ontem,
também, vi a notícia da morte de Robin Williams,
provavelmente vítima de
eumesmocídio. Dizem que estava deprimido ultimamente...Seria o aborto espontânea também uma forma de eumesmocídio? Teria o ser humano essa capacidade de decidir se continua ou não a brincadeira de viver enquanto ainda é feto? Ainda na barriga da mãe seríamos capazes de ficar deprimidos?
Nem todos que se
matam o fazem por depressão. Alguns cometem o ato por opção, de forma
consciente e racional. É, ao menos me parece isso,o que aconteceu com o Walmor
Chagas, que ao perceber que já vivera o que lhe fora possível e que,
provavelmente, daquele ponto em diante só viveria as impotências de ser,
decidiu “que é melhor partir lembrando,que ver tudo piorar” (trecho da música Borandá do Edu Lobo).
Lá pelos meu 16 ou 17
anos briguei com o Oswald de Andrade por causa de uma morte. Eu sei que ele
morreu 11 anos antes de eu nascer... Há um livro chamado “Alma”, é o primeiro
de uma trilogia intitulada “Os Condenados”.
Alma era o nome da
personagem central. Uma vadia, quero dizer, um espírito livre que vivia fora
dos padrões da sociedade. Acontece que um português, inocente, se apaixonou
pela garota e, quando ele lhe era interessante, Alma vivia com João (acho que
era esse o nome do portuga). Porém, devido à sua liberdade espiritual, ela
sempre o traia, passava uns perrengues e, na necessidade, voltava ao lusitano
que a perdoava e a aceitava.
Quando pela primeira
vez ela não o traia, João, passando pelo Parque da Luz, avistou Alma com outro
homem. Era um primo da va..., digo, da moça que voltava da Europa. O português
vendo a cena dela com outro não foi tirar explicações, decidiu agir. Foi até a
Ponte das Bandeiras e se atirou no Tietê. Cometeu um eumesmocídio.
Eu fiquei tão puto da
vida com o Oswald de Andrade, pelo destino que ele deu ao personagem, que parei
de ler o livro e fiquei meio birrado com o autor.
Talvez você encontre Os
Condenados em algum sebo. Há uma edição muito boa, com capa dura, do também
falecido Círculo do Livro.
Acredito que João tenha
perdido as forças, a esperança, a fé, o amor, que estava se sentindo “mais só
do que eu merecia” ( Sempre Não é Todo Dia, Oswaldo Montenegro) e, infelizmente
para ele, assim como para o Robin Willians, assim como para o feto, não houve
uma salvavidas que lhe pudesse ajudar.
Sorte daqueles que
tem alguém para lhes salvar da vida!
Dourovale
(metroviário e escritor, autor do
Artesão da Literatura - Os Primeiros a Contar)
Olá.
ResponderExcluirMas uma vez estou feliz... Cada vez que leio uma linha do que escreve retira de mi uma expressão e sentimento.
Amo sua literatua,
PARABÉNS
mariá
Puxa, Mariá! Muito obrigado! Fico feliz e lisonjeado por poder alcançar alguém dessa forma. É esse o objetivo maior de um escritor.
ExcluirMaravilhoso!!
ExcluirComo Adorei!!!!
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