Foto: Rosana Xavier |
Este texto nasce
tarde, mas ainda em tempo. Era para ter escrito em junho, logo após a
apresentação do TEATRO MÁGICO em Osasco, mas nessas correrias... e lançamento
de livro... fui adiando...
Em 27 de março de
1929, os modernistas, liderados pelo Oswald de Andrade, no Restaurante do Mappin,
comeram antropofagicamente o senhor Abelardo Pinto, o famoso Piolin. Dizem que
o palhaço devorado fez uma esplêndida atuação sobre sua morte. Era o
reconhecimento dos artistas modernistas ao talento, não apenas do Palhaço
Piolin, mas de toda arte circense.
O circo sempre foi uma
arte modernista, mesmo antes do modernismo!
Os ciganos que fugiram
das perseguições europeias foram os responsáveis pela “invenção” do circo no
Brasil! Creio que o artista circense que mais se adaptou a este país foi o
Palhaço. Na Europa eles são mais mímicos, não falam. No Brasil o palhaço fala,
dança, canta e interpreta.
Benjamim de Oliveira
também foi antropófago, futurista, surrealista e palhaço. Muitos acreditam que
a mistura de teatro, música e circo começou com ele. Um modernista antes dos
conceitos, das teorias, das análises críticas e artísticas. Um modernista por
vocação e não por erudição, assim como todo Circo.
Quando você assiste ao
TEATRO MÁGICO é possível vislumbrar, numa mesma apresentação música, teatro,
poesia, circo,... Formas artísticas se misturam, desestruturam-se, recompõe-se,
e lhe é servido ARTE.
O nome do grupo é
inspirado/copiado/antropofagiado do livro “O Lobo da Estepe”, de Hermann Hesse.
Foi esse mesmo livro que levou Clarice Lispector a se tornar uma escritora. O
livro fala da angústia de quem é ou deixa de ser civilizado e se tornar um
analítico crítico dos tempos modernos. O Teatro Mágico aparece para o personagem central de maneira
ilusionista num cartaz que informa que a entrada é só para raros. É preciso ser
uma pessoa rara para assistir ao Teatro Mágico.
Assim também você tem
que ser uma pessoa rara para gostar do grupo TEATRO MÁGICO. Tem que gostar de
música, ou de poesia, ou de acrobacia, ou de ilusão, ou de qualquer forma de
arte, ou de nada.
O TEATRO MÁGICO é, na
minha opinião, a melhor tradução (ou consequência) do movimento modernista na
música. As palavras musicadas do
Fernando Anitelli não são letras de músicas, são poesias. E poucos são ou foram
os poetas da música brasileira. Vinícius de Moraes, Cazuza, Chico Buarque, Belchior, Fernando
Anitelli trabalham as palavras construindo e desconstruindo paradigmas,
significantes e significados. Sabe o que isso significa?
Foto: Rosana Xavier |
Oswald de Andrade
dizia também que um dia o povo provaria os biscoitos finos que ele fabricava.
Queria levar a arte ao povo simples que fala “teia” no lugar de “telha”, e “teiado”
no lugar de telhado”. O TEATRO MÁGICO faz isso, não diferencia público. Pode se
apresentar nos Bank Halls da elite ou num salão atrás da igreja em Santo André.
Foto: Rosana Xavier |
Palmas! Aplausos! Assovios!
Gratidão!
E a vontade que fica,
ao final do show, é dizer:
“Vá! Dê meia-volta...
e volta!”
Texto escrito por um
admirador secreto chamado Dorival Cardoso Valente.
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