terça-feira, 6 de outubro de 2015

Eu não sei se pay-per-view o Teatro Mágico... mas eu vi! - Por Dourovale






Foto: Rosana Xavier
Este texto nasce tarde, mas ainda em tempo. Era para ter escrito em junho, logo após a apresentação do TEATRO MÁGICO em Osasco, mas nessas correrias... e lançamento de livro... fui adiando...
Em 27 de março de 1929, os modernistas, liderados pelo Oswald de Andrade, no Restaurante do Mappin, comeram antropofagicamente o senhor Abelardo Pinto, o famoso Piolin. Dizem que o palhaço devorado fez uma esplêndida atuação sobre sua morte. Era o reconhecimento dos artistas modernistas ao talento, não apenas do Palhaço Piolin, mas de toda arte circense.
O circo sempre foi uma arte modernista, mesmo antes do modernismo!
Os ciganos que fugiram das perseguições europeias foram os responsáveis pela “invenção” do circo no Brasil! Creio que o artista circense que mais se adaptou a este país foi o Palhaço. Na Europa eles são mais mímicos, não falam. No Brasil o palhaço fala, dança, canta e interpreta.
Benjamim de Oliveira também foi antropófago, futurista, surrealista e palhaço. Muitos acreditam que a mistura de teatro, música e circo começou com ele. Um modernista antes dos conceitos, das teorias, das análises críticas e artísticas. Um modernista por vocação e não por erudição, assim como todo Circo.
Quando você assiste ao TEATRO MÁGICO é possível vislumbrar, numa mesma apresentação música, teatro, poesia, circo,... Formas artísticas se misturam, desestruturam-se, recompõe-se, e lhe é servido ARTE.
O nome do grupo é inspirado/copiado/antropofagiado do livro “O Lobo da Estepe”, de Hermann Hesse. Foi esse mesmo livro que levou Clarice Lispector a se tornar uma escritora. O livro fala da angústia de quem é ou deixa de ser civilizado e se tornar um analítico crítico dos tempos modernos. O Teatro Mágico aparece para o personagem central de maneira ilusionista num cartaz que informa que a entrada é só para raros. É preciso ser uma pessoa rara para assistir ao Teatro Mágico.
Assim também você tem que ser uma pessoa rara para gostar do grupo TEATRO MÁGICO. Tem que gostar de música, ou de poesia, ou de acrobacia, ou de ilusão, ou de qualquer forma de arte, ou de nada.
O TEATRO MÁGICO é, na minha opinião, a melhor tradução (ou consequência) do movimento modernista na música. As palavras musicadas  do Fernando Anitelli não são letras de músicas, são poesias. E poucos são ou foram os poetas da música brasileira. Vinícius de Moraes, Cazuza, Chico Buarque, Belchior, Fernando Anitelli trabalham as palavras construindo e desconstruindo paradigmas, significantes e significados. Sabe o que isso significa?
Foto: Rosana Xavier
Oswald de Andrade dizia também que um dia o povo provaria os biscoitos finos que ele fabricava. Queria levar a arte ao povo simples que fala “teia” no lugar de “telha”, e “teiado” no lugar de telhado”. O TEATRO MÁGICO faz isso, não diferencia público. Pode se apresentar nos Bank Halls da elite ou num salão atrás da igreja em Santo André.
Foto: Rosana Xavier
Palmas! Aplausos! Assovios! Gratidão!
E a vontade que fica, ao final do show, é dizer:
“Vá! Dê meia-volta... e volta!”

Texto escrito por um admirador secreto chamado Dorival Cardoso Valente. 

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