Hoje, nesse clima que é mais verão do que primavera, na
rodovia de todos os dias, o sol brilhava intensamente e, parecia proposital,
refletia-se nos autos da frente, ultrapassando o para-brisa e atingia meus
olhos. O mundo que eu via passou a ser uma fantasia: as formas deformadas; as
cores alteradas; os conceitos desconsiderados; o asfalto derretendo
visivelmente (sim, era possível vê-lo derreter-se, onduladamente mole, virava
vapor).
Negligenciei a proteção dos óculos escuros, que não me
trariam a realidade, mas tornariam o mundo mais aceitável e compreensível.
Aceitei como verdadeiras as imagens que se produziam e não me entendi
precisando de ajuda.
Sem saber, ou, até talvez, sem me importar, que é o mesmo
que não saber; arrisquei a minha vida. Pouco ou muito, a intensidade não
importa. O que interessa são as possibilidades. Dirigi como que cego ou dopado,
acreditando nas realidades deformadas que eu traduzia.
É assim a ilusão do sol que nem sempre resulta em acidente.
Mas, de forma contrária aos dizeres das ciências exatas, não
possuímos apenas um sol que pode nos cegar.
O segundo sol difere entre as pessoas.
Para alguns é o trabalho.
Para outros o amor.
Há os que se ceguem por uma causa, por uma arte, por um
esporte.
Encontramos quem se ilude com os reflexos imperfeitos das
religiões, das políticas, das ganâncias, das traições, dos preconceitos.
Esse segundo sol causa os mesmos efeitos de deturpação da
realidade e, embebidos ou deturpados, por não saber ou não querer, deixamos de
lado os óculos escuros...
Colocamos a vida em risco, deixamos a consciência em xeque,
apontamos uma arma para a nossa sanidade e nos sentimos bem.
Quando cegos não conseguimos perceber onde estão os dados
para poder jogá-los e definir a sorte da nossa sina.
Quando cegos quem se apropria dos dados e os lança é o acaso.
Quando cegos deixamos a decisão do nosso destinos em mãos
alheias.
Calma,
nem toda história de paixão cega termina triste.
Mas atenção,
nem toda história de visão deturpada termina bem.
Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago, poderia ser
entendido como um Conto de Fadas moderno. (Contos de Fadas sempre foram cruéis,
certo?). As pessoas, no livro, assumem o que há de mais podre na alma humana
quando acreditamos que um deturpado presente é sempre eterno.
Se não quiser ler, se preferir ofuscar sua vista com a visão
de outra pessoa, veja o filme.
No segundo dia do desafio achei que seria interessante responder a uma TAG, e escolhi a TAG dos Infernos, feita pela Tatiana Feltrin, (Link para o vídeo). São várias perguntas, algumas foram adaptadas, com o tema Halloween!
1ª > 3 Desenhos
- Scooby-Doo: Quem não cresceu assistindo aos mistérios da Mistério S.A. pode sair do site agora e encontrar um SBT pertinho de você! ;) Os episódios trazem um mesmo formato, um mistério que envolve a trama e só é solucionado nos últimos minutos. Para ilustrar, coloquei abaixo um trecho do meu favorito: A Bruxa Fantasma
- A Noiva Cadáver: Desenho do Tim Burton só pode dar nisso: uma história sem pé nem cabeça que te envolve e te prende do começo ao fim. Em um vilarejo europeu do século XIX vive Victor Van Dorst (Johnny Depp), um jovem que está prestes a se casar com Victoria Everglot (Emily Watson). Porém acidentalmente Victor se casa com a Noiva-Cadáver (Helena Bonham Carter), que o leva para conhecer a Terra dos Mortos. Desejando desfazer o ocorrido para poder enfim se casar com Victoria, aos poucos Victor percebe que a Terra dos Mortos é bem mais animada do que o meio vitoriano em que nasceu e cresceu.
- Os Vilões da Disney: Não podia faltar Disney nessa TAG! Meu desenho favorito é também próprio para o mês do horror. Nele, os vilões de todas as animações da Disney invadem a House of Mouse e tentam tomar posse do lugar, enquanto acompanhamos esquetes também temáticas. Veja abaixo:
2º > 3 Séries e/ou episódios avulsos
- Supernatural: Minha segunda série favorita (#TeamRevenge) conta a história de Sam e Dean Winchester que caçam e destroem monstros sobrenaturais! Acho que despensa maiores apresentações... Meu episódio favorito chama-se Bloody Mary:
Para começar o Desafio do Mês do Horror, (veja o post explicativo aqui) decidi ir até a Livraria Cultura do Conjunto Nacional com um objetivo: encontrar livros diferentes e não tão conhecidos sobre o tema. Para não perder o costume, comecei pelos livros em inglês e o que eu encontrei foram várias prateleiras lotadas de livros da Agatha Christie, a mais respeitada escritora de livros policiais. As próximas duas horas foram dedicadas à leitura de cada sinopse e, depois de muita indecisão, escolhi The Body In The Library.
Após consultar o preço procurei a edição em português e descobri que, embora a hardcover não seja tão atraente quanto a primeira que vi, o livro estava pela metade do preço (e depois ainda reclamam que no Brasil poucos lêem em inglês...).
Como pensei em fazer um diário de leitura neste Desafio, achei válido comentar o que estou achando, mesmo que esteja ainda no quarto capítulo.
Agatha consegue criar o ambiente e desenvolver os personagens, mesmo que alguns já tenham participado de outros volumes, em poucas palavras, o que me agrada muito. Acho um pouco cedo para comentar sobre a história, mas já deu pra perceber a falta de preocupação com a parte interna da edição. A capa (ao lado) chama a atenção na livraria, mas o conteúdo apresenta diversos e sérios erros de acentuação e até digitação, o que me fez pensar se não seria melhor ter levado a versão original, mesmo tendo que desembolsar o dobro do que havia gasto.
Também tenho que comentar sobre Stephen King! Tenho visto vários de seus livros em destaque em diversas livrarias, mas os preços não são nem um pouco convidativos... Nas edições americanas ou inglesas apenas encontrei livros de bolso que, mesmo custando preços de sebo (ou menos...), não são nem um pouco confortáveis de se ler. Encontrei IT - A Coisa, que em sua versão original tem mais de mil páginas, com a mesma grossura de um livro como Harry Potter e a Ordem da Fenix em páginas com um cheiro até desagradável, mais finas do que as da bíblia e de uma cor acinzentada, quase um jornal. São por esses e vários outros motivos que eu acabo optando por usar o iBooks! O aplicativo oficial da Apple permite escolher o brilho da tela, o tamanho da fonte, a cor da página, além de organizar os livros em uma estante virtual, semelhante a uma real. Os livros podem ser comprados em diversos idiomas e por preços acessíveis. Pra quem se incomoda com o brilho da tela, uma película fosca pode ser a solução!
Ainda nesse primeiro dia, li o conto A Máscara da Morte Rubra, de Edgar Allan Poe, pela indicação da Tatiana Feltrin (que inspirou o desafio), mas acredito que será melhor comentar sobre ele em um post exclusivo. Nos próximos posts do desafio também pretendo trazer dicas sobre filmes e séries!
A primeira leitura da Bienal 2014 foi Lua de Larvas, da escritora britânica Sally Gardner.
SINOPSE: Quando seu melhor amigo, Hector, é de repente levado embora, Standish Treadwell percebe que cabe a ele, a seu avô e a um pequeno grupo de rebeldes enfrentar e derrotar a opressão permanente das forças da Terra Mãe. História de extrema originalidade e contundência. É impossível não se comover com a narrativa enfática e o heroísmo inesquecível de Standish. Por pouco o livro não é considerado um Haicai, os capítulos são bem curtos e deixam a leitura rápida. O início pode deixar o leitor confuso, mas a história vai se revelando aos poucos, aumentando a curiosidade pelo desfecho. A inocência de Standish, e sua visão simples do mundo, da leveza a uma história tão pesada em que um governo totalitário controla seus cidadãos e os separa em zonas. Com a chegada do homem a Lua, vários acontecimentos transformam a vida de Standish, como a chegada de Hector, que em pouco tempo se torna seu melhor amigo. Os dois vivem aventuras imaginárias com o objetivo de chegar ao planeta Júniper, mas logo a diversão é interrompida quando Hector e sua família são afastados de Standish, e é quando a verdadeira aventura começa. Standish vive com seu avô, que o ajuda a enxergar o mundo em que vivem da melhor forma, além de protegê-lo. Embora pareça infantil, o livro traz passagens realmente fortes como a morte de um garoto após ser espancado pelo diretor de sua escola, e a invasão da casa do protagonista, mas tudo do ponto de vista inocente do menino. Foi uma das melhores leituras do ano, e uma das mais rápidas também, embora seja a quinquagésima trigésima sexta distopia, traz diferenciais pela sua premissa infantil e também por possuir um único volume (finalmente uma história que não precisa de 3 ou 4 livros para ser concluída). As ilustração conversam com a história, embora não a representem diretamente (são basicamente compostos por ratos, larvas e moscas). O estande da WMFMartinsFontes na Bienal recebeu a autora para um bate-papo com fãs, mas infelizmente não encontrei vídeo ou texto sobre o evento :( Se você participou ou leu o livro, deixe suas opiniões nos comentários, Até a próxima!
Já faz quase um ano que acompanho o canal da Tatiana Feltrin, o Tiny Little Things, no YouTube. Os vídeos são deliciosos de assistir e a diversidade de estilos e tipos literários alcançam um grande número de pessoas. No ano passado, e novamente neste, rolou o Mês do Horror! No mês de Outubro, celebrando o Halloween, todos os vídeos do canal são temáticos. Misturando contos, livros, filmes e séries, os vídeos apresentam clássicos e novidades do gênero, conforme abaixo.
Foi aí que surgiu a ideia de montar o Desafio do Mês do Horror que consiste em ler os contos indicados pela Tatiana nos vídeos, e acrescentar indicações próprias, escrevendo aqui no blog um diário de leituras. Seguindo a ordem de postagem dos vídeos, o desafio se inicia com A Máscara da Morte Rubra, de Edgar Alan Poe (vídeo da Tati). Quem se interessar pode indicar livros, filmes ou contos de terror pelos comentários ou fazer o desafio em seu blog!
Talvez não seja mesmo necessário ser mineiro para ser poeta... mas nascer em Minas ajuda. Coisas de montanhas? Sei lá.
Eis ai uma sugestão de poesia...
Para comprar procure o Raphael no facebook: https://www.facebook.com/raphael.vidigal.9?fref=ts
Release: Raphael
Vidigal lança o primeiro livro, “Amor de morte entre duas vidas”, com 75
poesias.
Ficha técnica
Autor:
Raphael Vidigal;
Editora:
Asa de Papel;
Prefácio:
Marcio Serelle.
Páginas:
92 (noventa e duas);
Poemas:
75 (setenta e cinco).
Arte:
Marcelo Iglesias;
Gráfica:
Paulinelli;
Capa:
Tela de Egon Schiele.
Tiragem:
300 (trezentos) exemplares;
Material
do papel: Polens Soft 90 gramas.
Preço:
R$30,00
Projeto
“Amor
de Morte Entre Duas Vidas” é o nome do primeiro livro de poesias lançado pelo
jornalista e letrista Raphael Vidigal. O livro é composto de 75 poesias
divididas entre os temas que, juntos, formam o título. Ou seja, são poesias de
amor, de morte e entre duas vidas, explorando o lirismo, a tragédia e o senso
de humor da vida e do ser humano. Editado pela “Asa de Papel”, uma das mais
reconhecidas do ramo no mercado de Belo Horizonte, de propriedade do editor e
dono da livraria de mesmo nome Álvaro Gentil, o lançamento tem prefácio escrito
por Marcio Serelle. A iniciativa foi bem sucedida também graças a um processo
de financiamento coletivo através do site Catarse, que contou com 82
colaboradores oficiais.
Sinopse
Um
livro de poesias sempre fala “de outras coisas”, como diz Mario Quintana. É
desta fonte entre a irreverência e a delicadeza, entre o rigor da estética e a
liberdade da forma, o apreço pelo profundo e a sordidez da superfície que o
autor bebe para transformar o dia a dia comum, banal, na matéria de que é feita
a poesia. Com influências narrativas de autores como Clarice Lispector, Paulo
Leminski, Manoel de Barros, Ezra Pound e outros, além da própria vivência
autobiográfica, o livro constrói um retrato muitas vezes distorcido, colorido,
negrume, que tenta manter a luz acesa de uma vela chamada vida.
Biografia
Raphael
Vidigal nasceu em Belo Horizonte no dia 14 de junho de 1988. Formado em
Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela PUC Minas em 2011,
colabora com o Jornal Hoje em Dia desde 2010, onde foi contratado em 2013 e
trabalhou no caderno de Cultura como repórter, além de escrever críticas de
teatro e artes plásticas. Produz e escreve os textos do programa “A Hora do
Coroa”, transmitido aos domingos de manhã na rádio Itatiaia, desde 2009.
Colocou letra em 15 chorinhos do cavaquinhista mineiro Waldir Silva, a serem
editados em CD num álbum gravado com a participação de diversos artistas da
cena local. Escreveu roteiros de peças teatrais e documentários. Publicou
contos na revista “Contos do Absurdo”, de São Paulo. É autor do site Esquina
Musical.
Prefácio
Quando
da estreia de um poeta, a via mais usual de apresentá-lo é por meio do cotejo,
dizendo a quem ele soa, mas não, necessariamente, como e o que ele soa –
manifesta, expressa, exalta. Tentemos, diferentemente, pelo menos de início, o
caminho pelas próprias faces deste livro de Raphael Vidigal, entre elas: a
proposta da rapidez, na simbiose entre o artifício vagaroso e o texto
velocíssimo, ou, como dito bem melhor por um outro autor, coisas de balística; o movimento nem sempre fácil,
pois também no espaço (gráfico), de ancoragem entre as palavras e os sentidos,
o que demanda engenho também por parte do leitor; um certo tom trágico, porém performático – logo,
autoconsciente –, de equilibrista entre o biográfico, o sensível e o burlesco
de um Lennie Dale, citado em “Iluminação ou Prefácio”. Afinal, cautela, pois
como coloca ironicamente outro poema deste livro: “esse sentimento grego,/é a
vontade de tomar um iogurte”.
Ironia à parte – ou por causa dela mesma –, o
que emerge de físico nesse conjunto de poemas é a agudeza da palavra, que é
fina e penetrante como lâmina. No deslocamento proverbial, à Leminski (não
resisti à comparação), o poeta adverte acerca da eternidade da palavra em face
da efemeridade do gesto: “Quem com ferro fere com verbo será ferido”. Assim, o
vício pela palavra poética é, no poema-homenagem a Jack Kerouac, semelhante
àquele por um narcótico de fúria, e não apaziguante. E, talvez, por isso, o
poeta prefira, por vezes, o oximoro do “silêncio alto” à fala. Daí, também, a
deferência, na obra, à poesia corporal, sem palavra (a mímica, a dança),
cultivada pelo já referido Dale, mas também por Charles Chaplin, cujo cinema
mudo é reiteradamente evocado nos poemas.
Nos
três segmentos do livro que compõem o título, o primeiro deles versa sobre um
amor tão inviável quanto necessário, em que a imagem que permanece é a do
sujeito irremediavelmente partido, inacabado. “Pois nessa vida insuficiente
completar o vão do outro é mera tentativa brusca-tola”, resigna-se em
“Caminhos”, quando o amor já não adianta nem basta. Na unidade “Morte”,
colocam-se em relevo a perda, o envelhecimento e noção de que tudo caminha para
inexistência, disfarçado, quase sempre, pelo verniz da alegria e da descontração.
No entanto, “nada restará do riso lágrima sol do amor que arde abraço/ No
máximo uma poesia ou uma foto digital”, enuncia o eu poético em “Ana Cristina
César”. “Entre duas vidas”, que encerra o livro, é a parte predominantemente
autorreflexiva da obra, embora, como já ficou claro até aqui, esse discurso
poético é também tributo a descoberto, em que é chamada uma série de autores
(Pound, na epígrafe, mas também Pablo Neruda, Truman Capote, Oscar Wilde,
Fernando Pessoa e Caio Fernando Abreu nos próprios poemas). Em “Claríssima”, a
maçã ofertada no escuro, no verso final, é a chave para a escritora de A hora da estrela. A poesia de Vidigal
brota, assim, entre duas vidas: daquela mais imediata, que o poeta (não sabe
bem se) experimentou, e de uma outra, assumidamente forjada principalmente nas
leituras.