Estávamos no ALI PUB, Barueri. Era uma apresentação do Grupo Choro Marginal.
Então o Hugo me disse que "aprendeu a ler". Quase um Engenheiro formado, imaginei que isso fazia muito tempo. Mas ele me disse que não...
31 ANOS SEM LER

"Passei 31 anos da minha vida sem ler. E agora, aos 33 anos de idade, descubro os prazeres e desprazeres da leitura.
Bom, acho que é melhor eu me apresentar! Meu nome é Hugo, tenho 33 anos de idade e sou uma “pessoa castanha”. Um jovem medíocre, que na escola apenas se destacou na arte de mentir e aprontar. Tive uma infância muito solitária, talvez isso tenha forjado meu jeito cada vez mais ermitão e antissocial. Também sou mestre em criar bloqueios. Quando acho uma tarefa difícil demais ou imprópria para as minhas habilidades intelectuais, empaco como mula prenha ao se deparar com rio profundo e de vultosa correnteza.

“Hugo! “Brasil” é nome de país, se inicia com letra maiúscula e não tem nada de “z”, é com “s”.

A definição comum da palavra alfabetizado é: “o que ou aquele que aprendeu a ler e escrever”. Agora vamos pensar! Saber ler pode ser interpretar símbolos e assim decifrar um código ou mensagem representadas. Esta, na minha opinião, é a melhor das definições, porém intrinsecamente não é a definição comumente usada. Se saber ler é interpretar símbolos afim de decifrar uma mensagem e sabemos pronunciar a palavra “Esquálido”, mas não a interpretamos, podemos chegar à conclusão de que ler é mais do que o conhecimento da fonética. Contudo, a principal função de ler não é a fonética e sim a mensagem que pode ser decifrada sem o conhecimento da fonética. É possível uma criança surda sinalizada aprender a ler.
A pré-história é, por conjuntura dos historiadores da arte, dividida em duas épocas: a Paleolítica e Neolítica (Pedra Velha / Pedra Nova). Cada uma com suas particularidades, e a principal característica que nos distancia do homem pré histórico é a descoberta da escrita. Este foi o advento que tirou a humanidade da época da pedra. Logo podemos classificar alguém que está na modernidade, mas não sabe ler, como “Homem Anacrônico”.

Apesar de ter desistido de Leon Tolstói, ainda não tinha desistido da meta de ler. Parti em nova empreitada então. Comprei quase a coleção completa, da versão “pocket”, de “Nietzsche”. Li, não lembro a ordem, mas li “O Nascimento da Tragédia”, “A Gaia Ciência”, “O Caso Wagner” e “David Strauss, Sectário e Escritor”.
Com a leitura dos livros de “Nietzsche”, depois de viciar na aventura que era ler em um português rebuscado e cheio de descobertas dentro da minha própria língua, percebi que o desafio de ler vai além de entender a “mensagem global”. Agora também havia o desafio de entender as novas palavras que eu não tinha o conhecimento do seu significado.
Depois das minhas aventuras com os volumes do alemão, decidi voltar ao Tolstói. Foi quando achei um volume em inglês e de aspecto físico muito bonito, de “Anna Karenina”(Ed. CRW Publishing). O desafio foi maior ainda com “Anna Karenina”. Por exemplo, nas primeiras páginas encontrei o adjetivo “lenient”, que para mim era desconhecido. Achei a seguinte tradução: “lenient = Indulgente”. Fiquei na mesma! Então tive que, além de operar um dicionário de versão em outra língua, operar um de significação.
Após “Anna Karenina” me senti totalmente preparado a voltar para “Guerra e Paz”. Hoje (30/12/2016) já li 80% da obra completa. Vejo sentido em cada frase e entendo a obra como um todo e, graças ao autor, consegui associar conceitos de cálculo infinitesimal com causa e efeito, relevantes ao comportamento do homem em sociedade; conhecer o “iluminismo” e ler “O que é o iluminismo?” (8 páginas) de Immanuel Kant; e ainda tantas outras experiências.
Ler não é conhecer o alfabeto. Mas sim exercício de constante pesquisa. Se um indivíduo conhece o Alfabeto Cirílico não quer dizer que ele entenda Russo. Ou seja, há uma enorme diferença entre ler e “ler”. "
Muito bom! Caso não se consiga mais cedo, não há razão para não se conseguir mais tarde!
ResponderExcluirMuito bom! Caso não se consiga mais cedo, não há razão para não se conseguir mais tarde!
ResponderExcluirTodo tempo é tempo.
ResponderExcluirOlá, muito interessante o seu post.
ResponderExcluirComo estudante de pedagogia, essa questão da importância de saber ler e de saber interpretar o que se lê é sempre debatida. Muitas vezes, na escola, enquanto alunos, não somos realmente apresentados aos significados e aos sentidos do que estamos aprendendo.
Você foi corajoso de começar a ler logo por Tolstói, dele eu ainda só li alguns contos.
petalasdeliberdade.blogspot.com
desafioleiamaisbrasil.blogspot.com
O Hugo é, entre outras grandes qualidades, uma pessoa corajosa e determinada. Ler não é fácil. Fácil é unir letras e formas palavras, frases. Entender o escrito requer vontade.
ExcluirPena que estejamos passando por uma época de tão pouca vontade...
Visitarei seus blogs!
Dourovale!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir